sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Epidemia
Por que viajei? Essa pergunta me assombrava a toda hora. Sei bem que o que me trouxe aqui foi a epidemia. Não podia mais observar o sofrimento alheio, pois aos poucos fui deixando-me enfraquecer. Não pagaria psicólogo algum pra descobrir em mim uma doença óbvia. Não tomaria remédios. “O mundo contamina”?. Está bem. Sairei então disso que chamam de mundo. Me afastei então da sociedade. Essa depressão passeia devagar por todos nós. Fazendo-nos pensar em ideias inventadas e conceitos cheios de valor. Não quero valor. Quero só existir de longe. Minha cabeça e até onde ela pode ir é a única coisa que me fascina. Nunca meditei, nunca participei de ritual algum. Minha onda é com minha mente ativa. À loucura. Conversar sozinha é meu maior prazer.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Aquário.
sábado, 11 de dezembro de 2010
A minha pornografia.
domingo, 28 de novembro de 2010
Aquarela
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
13 anos.
Na porta da escola já me dizem coisas de política. Repetem o que escutam em casa, e eu quieto. Pra mim é bem mais sério pensar que o mundo vai, sim, um dia acabar. E eu nem sei o que me dá mais medo. O mundo acabar, ou saber que isso quer dizer que eu também vou desaparecer?
Alguns anos atrás, eu não entendia que as coisas se acabavam. A validade da manteiga passava e eu continuava no meu mundo imaginário dentro do meu quarto. E lá eu podia ser rei. Minhas histórias só acabavam quando eu as dava um fim. O melhor de tudo é que mesmo quando minha mãe me interrompia pra qualquer coisa chata, eu podia só continuar depois de onde eu tinha parado... Hoje em dia é difícil fazer isso. Ainda sou muito novo, mas já aprendi várias coisas da vida. Não posso jogar lixo no chão. Devo dar dois beijinhos, um em cada bochecha, para cumprimentar alguém. Tenho que ouvir o despertador.
Preciso pedir ajuda quando eu precisar. E melhor será se ela não for necessária com frequência. Pois ajudar não é uma coisa que interesse muito as outras pessoas. Mas ao mesmo tempo é terrivelmente indelicado recusar um pedido de ajuda. E a verdade é que tá todo mundo gritando por ela. Sim. Vejo na minha irmazinha, por exemplo. Ela tem 4 anos e nem sempre sabe explicar o que quer. Então ela grita e chora até que alguém consiga entendê-la. Às vezes ela joga um brinquedo no chão, cospe a comida para fora... Enfim, ela sabe pedir ajuda sem saber dizer no quê - É claro, tão pequenininha, nem sabe brincar de lego comigo, ainda - Mas o que eu já entendi é que ela não vai parar de fazer isso nunca. Até minha mãe já gritou comigo sem motivo. Ou pelo menos não deixou que eu entendesse. Fala sério e com sinceridade, mas não conseguiu me fazer enxergar o que quer; porque racionalmente pareceria tão pequeno... - Não é muito diferente do que minha irmazinha faz - Eu sei bem que todo o drama não é só pelas minhas roupas largadas na cama. Isso é só uma desculpa. Um dia cheguei irritado da escola, porque minha professora disse que meu trabalho não tinha ficado legal. Quando cheguei em casa, bati a porta do quarto, pensando só em declarar minha raiva a todos. Ninguém gostou nada disso. Mas foi só meu jeito de pedir ajuda ou colo sem ninguém que pudesse me entender.
Uma rejeição é muito difícil de superar. Tem mil maneiras e minha mãe já me disse várias. Mas ela mesma vive repetindo no intervalo de suas próprias frases “É muito difícil”. Se já é difícil pra ela, aos poucos vou perdendo as esperanças de que um dia eu vá saber como lidar. Assim, vou entendendo que essa minha solidão e minhas angústias são pra sempre. E acho que é por isso que meus vampiros imaginários não vêm mais me visitar pela mente. Eu tenho problemas maiores, agora que descobri os vilões do meu próprio mundo.
E tenho tanto medo, que é difícil dormir. Mamãe disse que não é certo ter insônia aos 13 anos - E seria “certo” ter insônia aos 30? Depois de tantos anos, aí seria normal descobrir que não se aprende nada com a vida? - Que eu sou muito novo e preciso parar de sonhar que invadem minha casa. Que eu não posso mais beber refrigerante antes de dormir. Que eu tenho que desligar a TV mais cedo. E é tão engraçado... Porque normalmente ela vem me dizer essas coisas quando por acaso ela também não consegue dormir. Dá vontade de dizer “Desculpa, mamãe, me perdoa mesmo, mas eu já conheci um pedaço triste do mundo e só falta agora aprender a mentir com um sorriso no rosto assim como o seu.”
Mas eu consigo entender. Se minha irmazinha começasse a reclamar do mundo, eu também gostaria de me imaginar capaz de ensinar feitiços que pudessem ajudar. Esperando que talvez ela tivesse mais sorte que eu.
sábado, 13 de novembro de 2010
Vários e curtos.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Inevitável?
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Vazios.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
(Asrev-eciv e) Anna ama Otto.
Siod so arap uortnocne ortnocnesed otnat euq ainomrah a rarbeuq rasuo mes, sotnuj amac an mairatied es e. Olucríc o mairarrecne e etnerf ed mairartnocne es, ía e. Onitsed omsem o arap sotsopo sohnimac. Siod so mavamlaca euq açnaruges asse are e. Olelarap radna siam atnaida oãn e solucríc soa ád es adiv a. Ragul omsem on, amrof reuqlauq ed, ranimret mai euq maidnetne e, ralucric adiv a maibecrep euqrop sotnuj rahnimac me mavapucoerp es oãn. Ortuo od ohnimac o aiuges mu, aid adac. Mavazever e. Ohnimac ortuo on mavanigami es sele, atierid a arap artuo a, adreuqse arap mu, odariv ralho ed e atrop amsem alep, maias odnauq e. Ele avasnep ale, ale avahlo ele otnauqne. Ale avasnep ele, ele avahlo ale otnauqne. Maibas es sam, mavartnocne es oãn serahlo sues. Saditrevni saroh me, ortuo oa mu saledahlo mavaçnal, oirótircse on. Otto e Anna mavahlabart, edadic ad ortnec on oicífide ednarg mu me.
Otto ama Anna.
[O amor deles é real, e bonito. Só um pouco mais difícil de acompanhar.]
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Pianoforte
sábado, 16 de outubro de 2010
É terno.
Salto.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Tempestiva.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Eu e você.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Que foge com rapidez.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Vicioso.
sábado, 18 de setembro de 2010
Montanha-Russa.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
O casamento mais perturbado.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Precipitadamente.
Ela estava com preguiça. Gostaria de caminhar até a casa do seu tio. Mas preferiu esperar um ônibus e poupar-se do cansaço que uma caminhada lhe traria às pernas naquele momento. Qualquer ônibus que vá até a w3 sul, por favor. Repetia para si mesma silenciosamente. Era um ônibus azul que precisava. Passaram vários amarelos, vermelhos, verdes, e Helena podia jurar ter visto também um roxo, rosa, caramelo… tudojunto. Não sabia bem de onde vinha o delírio. Mas como é que não passava o ônibus que queria?
Certo, pensou ela. Vou esperar mais 5 ônibus, se o 5o vier e não houver sinal do meu, vou-me embora caminhando. E então ela sentou-se. O mundo parecia conspirar contra sua preguiça, pois passou a não enviar mais ônibus quase nenhum.
Sentada, seus olhos passaram a fechar levemente, e incompletamente. E tudo tão cheio de mente assim, inclusive Helena. Começou a sentir-se suja, incapaz. Não conseguia enxergar-se subindo à canto algum. Talvez não conseguisse nada daquilo que ansiava. Nunca fora boa nisso, de qualquer forma. Não achava que seus desejos fossem tão impossíveis para alguma outra pessoa. Mas para ela era distante. Ela olhava pro horizonte dos seus sonhos e conseguia ver-se acordando de um baque na melhor parte da ilusão. E de repente nada mais parecia real. E ela nem mesmo havia conquistado suas vontades ainda.
Pensou também em tudo que teria que lidar na vida. Agora, continuo indo à escola. Acabando esse Ensino Médio, vou tentar entrar para uma faculdade. Depois, trabalho. Isso não era tão aprisionador. Mas imagina se ela tivesse filhos? Imagina ter sua própria casa, ter que pagar suas próprias contas? Se ela mal dá conta de ir caminhando à casa do tio! Ela via-se, já, daqui há 20 anos, sofrendo daquilo que têm chamado de doença… Via-se estressada. Morreria de câncer devido aos seus cigarros múltiplos desde os 16 anos. Se o stress tende a aumentar, ela que não ousaria parar de fumar. Saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos, e enquanto o destino mo conceder, continuarei fumando, dizia ela emprestando-se um pouco de Fernando Pessoa.
Continuou descendo às suas profundezas da mente. Pensou em pessoas e no quão impaciente todas elas se tornaram. Inclusive ela mesma. Relacionamentos virtuais são mais fáceis porque você tem a opção de responder ou não. E você pode mentir, também, sem seus olhares desmentirem. Ai! Ai, não! Mas ela queria um dia escrever um livro! Como poderia, com esse mundo tão perdido? Não tinha vontade de escrever sobre nada que conhecia. E não acreditava em nada que criava. Percebia então como seria mais fácil deixar para os outros, essa coisa de viver.
Mas que camada fina de vácuo começou a tomar conta dela, depois do terceiro ônibus. Fechou os olhos por completo desta vez. Tentou até enxergar qualquer coisa lá dentro. Imaginou-se a si mesma, mas não viu nada. Abraçou-se e encolheu-se, sem apego. Queria apenas ocupar menos espaço daquele mundo terrível.
Passou o 5o ônibus. Era o dela. Resolvi ir avisá-la. Toquei em sua pele, gélida. Ela não se moveu. Foi só quando toquei seu pulso que percebi que já estava morta. Precipitada mente.
Não sei explicar meu desespero, como narradora de figura tão querida à mim, ao perceber que não pude dar à ela outro destino.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Quebra-cabeças.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Açaí.
domingo, 5 de setembro de 2010
Sem título.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Abracadabra (Luiz Päetow)
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Coração em dois.
Nossos três corpos se juntaram, sentia tua respiração acelerar e a beleza dos cabelos dela. Os seios dela encostavam os meus e voltavam para você rapidamente. Ela te queria. E eu percebia em ti a confusão, em seu olhar. Você me puxava para seu lado, porque sentia medo dela. Ela te atraía absolutamente. E seu medo era que ela pudesse te dominar. Mas ela é tão distante, ela é tão difícil, ela seria tão impossível para você, infelizmente. E eu sabia. Você nunca me mentiu.
Eu sabia que por mais que adorasse ter a presença dela ali, não passava de um sonho que você adorava criar. Um momento passageiro. Logo sentiria sua ausência. Só não entendi porque é que eu estava ali também, dessa vez. Você não costumava permitir-me caminhar por este teu mundo tão intimamente.
Foi dentro deste sonho teu (ou meu?) que eu percebi que na verdade nunca estive apenas contigo. Ainda que não tivesse nenhuma outra mulher de carne e osso do nosso lado, você sempre dividia seu coração em dois pedaços. Eu sorria por saber que um ao menos era meu. E nutria tanta paixão por ti, que acabei roubando-lhe tua segunda paixão, e entregando-a um pedaço do meu coração também. No fim, só quem ganhou foi ela, que não teve de partir coração algum e ainda recebeu duas metades que poderia unir se quisesse.
Sozinha, ela carregava consigo qualquer possibilidade que eu e você teríamos de nos amar.
sábado, 21 de agosto de 2010
Vida,
Tá certo, vida, faz questão de vir em mim. Então posso desabafar? Deixe-me dizer o que me incomoda. Sim, te amo como nunca seria capaz de amar mais nada nem ninguém. Mas... Sim, há um Mas. E sei que triste é escutar um Mas assim depois de uma declaração de amor. Mas preciso, entende? Deixe-me, tente compreender-me.
Mas... Mas o efeito que você tem em mim é incrivelmente bonito. Sua presença me é inspiradora. Mais do que qualquer obra de arte ou tom de céu. Afinal, acho que a arte e os tons de cores ficam mais bonitos quando te tenho do lado. Enfim, não posso distrair-me. Tentarei com muita dificuldade focar-me no que quero lhe contar. Então... Então, és linda demais e deixa-me mais sublime, mais apaixonada. Aflora em mim incrível simpatia. Incrível capacidade de sentidos. Entrega-me poesias a escrever e brilhos nos olhos. E logo, por fazer-me perceber tudo isso, por fazer-me aceitar tudo isso, por fazer-me acreditar nas belezas das idiossincrasias, por fazer-me, enfim, intensificar-me, torna-me também mais vulnerável às dores que existem por aí. E é por isso, vida, é só por isso que às vezes gostaria que se afastasse um pouquinho só, enquanto eu planejo algumas regras para te apresentar da próxima vez que você quiser voltar.
Só um pouquinho, hein. Um pedacinho de mim pelo menos, que pare de viver. Indico-lhe deixar um pequeno espaço livre primeiro em meu coração, pra que eu não o dê tanta atenção por ora. E depois, que espace um pouquinho a minha mente, para que eu consiga pensar melhor em como ajeitar-me, sobriamente. E por último, que libere minha mão direita para que eu possa fazer anotações. Aí peço que leia tudo que eu pôr no papel. E que, caso aceite meus termos e condições, que volte. E volte mesmo, tá? Eu te amo sim, mas preciso me organizar, me encontrar antes de entregar-me a ti.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Cor de fogo [Parte 1]
Nem era assim tão bonita. Ou não pretendia ser. Ou não tivesse tempo para isso. Mas isso só percebi depois. Sim, porque no primeiro dia de aula chegou magnífica, com um vestido verde e olhos delineados, e talvez guarde essa imagem sua em mim ainda. Mas nos dias que se passaram, entrava atrasada, quase sem fôlego, com um jeans que não lhe caia bem e com uma blusa certamente antiga que usava já fazia anos.
Não sou de reparar tanto assim nas pessoas. A maior parte do tempo fico quieto, silencioso, esperando que a vida passe calma. Mas você me chamou atenção. Você lia um livro com uma capa curiosa, com um desenho estilizado de pássaros dentro do mar. Sim, achei terrivelmente interessante. Busquei o nome do livro. Mas vamos lá, não há como encontrar o título de um livro com uma capa assim. Sei que o queria. Queria também seus cabelos e despir suas roupas surradas. Que vulgar, você diria hoje, caso lhe contasse isso.
Você era também incrivelmente simpática e distante, ao mesmo tempo. Chegava cumprimentando todos ao seu lado e depois sentava e abria seu livro até que o professor chegasse a algum assunto que lhe despertasse. E quando desperta, endireitava a coluna e seus olhos seguiam o professor a qualquer ponto, até que tudo lhe parecesse enfadonho outra vez. E abria novamente seu livro.
Passaram-se duas semanas e eu sentava sempre umas cadeiras atrás de você, nem sei se me percebia até então. Acredito que qualquer dia eu peça a você que me tire a dúvida. De qualquer maneira, não é como se estivesse apaixonado por ti. Na verdade, só lembrava de você quando entrava na sala ofegante. E passava duas breves horas olhando para ti porque talvez me faltasse um bom livro para distrair-me.
Depois é que seus cabelos cor de fogo começaram a arder em mim. E foi aí que tudo se agravou.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O quê (re)escrevemos ali eu não sei o que foi.
Encontramos-nos de novo à beira mar. Exatamente como antes. Mas hoje seus olhares estavam chorosos e contou-me de ti de forma que nunca havia antes sabido. Eu, pelo contrário, falei bem menos. Minha vida anda tão desinteressante há tanto tempo. E talvez justamente por isso conseguisse te escutar tão bem.
Mas eu, ainda assim, não sei o que foi que aconteceu. Estávamos deitadas na areia e aos poucos os pedaços do nosso corpo foram se encostando timidamente. Sem querer? Sim, talvez fosse o vento frio que fazia com que meu corpo pedisse por um pouquinho mais de calor.
Você percebeu que não queria falar sobre minhas feridas de vida. Abraçou-me terna e mostrou-me que me amava ainda como tanto amou anos atrás. Ou talvez só fosse a forma que encontrou para agradecer meus ouvidos tão generosamente emprestados a ti. E talvez eu só quisesse te agradecer de volta, por ter respeitado meus silêncios.
Mas sei que ao menos um pequeno verso de amor escrevemos ali. Só não sei o que foi. Com certeza meus sentimentos misturados aos seus devem ter formado algo novo que talvez seja incompreensível pra qualquer uma de nós.
Vodka.
Você fica assim, sorrindo como amiga. Fácil. Jura saber muito mais que eu sobre as coisas todas. Quer me dominar, isso eu sei. Mas fui eu a tola que corri atrás de ti, tu só sorriu. E talvez essa já tenha sido sua primeira conquista. Agarrou-me e percebeu que procurava em ti um veneno que me fizesse sumir. Providenciaste todo o teor alcoólico, enviou-me suspiros de prazer. Depois me tacou no chão e me deixou quieta num canto para que pudesse eu mesma terminar de acabar comigo.
No dia seguinte acordo com a esperança de que tenha sido apenas um sonho ruim. Mas ali está você na minha frente, no espelho, com sua cara barata e arrogância conhecida, dizendo que eu caí na sua outra vez.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Carta Dele para Ela.
Apesar da aparência cinzenta e da falta de bonitos jardins como os quais estávamos acostumados, encontrei aqui certa poesia. Resolvi cantar tons monocromáticos misturados com a simpatia de todos que se puseram firmes conosco. Entristeço-me por não ter te explicado tudo bem melhor antes. Se eu tivesse previsto que teria de partir, teria me esforçado mais a colocar-te ao meu lado.
Lamentos a parte... Não temos tempo para isso. Estou a escrever esta carta para lhe depositar um pouco mais de esperança, pra declarar-te o meu amor. Meu único medo hoje é que acredite que te esqueci ou que desisti de buscar-te. Não. Quero-te como nunca. E estou verdadeiramente obstinado a te encontrar onde seja. Só não me desespero porque sei que isso apenas me roubará concentração. E isso eu não quero. Espero que esteja firme também. Mas espero que também ainda pense em mim...
Meu bem, não há um só dia que eu não sonhe com o cheiro do teu corpo. Não há um só dia que teu olhar me deixe só. Lembro de você cantando-me baixinho as canções do amor. Aquelas quietas, silenciosas. Porém as que mais me faziam dançar. Teu canto calmo fazia cada parte de mim dançar teus compassos. E sentia dançarmos juntos. Tu o pássaro raro, e eu o bobo que me encantava a imitar tuas folias.
(Deixe-me lhe contar um segredo... Eu acredito ainda dançar junto de ti. Acredito mesmo. Creio que estamos juntos ainda, em algum plano que se encontre neste vasto espaço. Acredito com a certeza dos apaixonados, que temos um ao outro apesar de toda a distância terrena, e de todos os buracos no tempo. Finjo que nosso portal é a lua, e é a ela que canto para ti todas as noites, esperando que escute. Canto aquela música que gostas, da liberdade das fadas e dos risos dos solitários.)
Um grande beijo, amor meu. Não desistirei até encontrar-te e somar-te a mim mais uma vez, de corpo e alma. Espero que o vento consiga levar esta carta a ti, apesar das barreiras. E se receber, sorria. Sorria para a lua, que eu conseguirei enxergar teu reflexo.
Carta Dela para Ele.
Imagino caso consiga receber esta carta apesar de toda a improbabilidade, e quando penso assim, um esboço de sorriso rasga minhas bochechas desacostumadas de alegria. Não sei reconhecer o que me tornou tão infeliz. Pensei que com o tempo, foste aparecer de volta. Mas nada. Porque me abandonaste?
Lembro muito bem de nós dois. Lembro de como apertava minha cintura e eu brincava com teus beijos. Lembro de toda a trilha sonora de gemidos e sussurros durante a noite. Não sei se, naquela época, algo me agradava mais que o seu prazer. E mais que isso, seu prazer junto ao meu. Hoje, tenho certeza que nada me agrada mais que as lembranças destes momentos. Todo seu tórax pulsava. Eu colocava minhas mãos em teus cabelos, em tua nuca e depois em todo seu corpo. E aí começávamos com todas aquelas acrobacias. Éramos fadas sem asas, nos sustentávamos um no outro. Ninguém mais caberia ali. Era uma dança criada através de nosso amor. E a música que tocava era a nossa chama acesa. E lembro de você dizer-me baixinho que enquanto ela estivesse assim tão flamejante, nossa dança só poderia acompanhá-la fielmente, sem pausas.
Imaginava essa nossa paixão como uma fogueira ardente no campo, e nós dois sentados juntos ao redor dela, meu amor. Hoje, imagino que talvez fossem na verdade duas fogueiras diferentes e distantes uma da outra. Você esquentando suas mãos diante de uma, e eu na outra. E éramos incapazes de espiar com precisão a chama do outro. Será que era assim? Tua chama se apagou ao partir? Não consigo ver! Dê-me uma dica, ao menos.
Lembro que quis me levar consigo. Pouco me importava o motivo de ir ou de ficar, tu sabes. Teria te seguido sem pensar. Mas me puxaram para trás. Puxaram-me, não deixariam que eu fosse se não acreditasse no motivo. Confundiram-me, amor! Gaguejei, e perdi tua presença neste mundo terreno. Eu não pensei que você pudesse ir e não voltar logo para mim. Quando demorou, resolvi eu então ir atrás de ti. Mas não encontrei caminho algum, apenas névoa. Adoeci. E encontraram-me já pessoas tristes e perdidas nisso que não é razão, sem possuir verdades e cheios da culpa de terem permitido que não só você, meu amor, partisse, mas que tantos outros também se fossem.
Desde então, desisti. Desisti por não ver outra opção do que fazer. Aos poucos tudo foi perdendo a graça. Até as flores do jardim, querido! Até aquelas lindas flores azuis que passávamos tantas horas poetizando-as. Até elas hoje me parecem falsas. Parece que me desafiam; Como se estivessem aí para fortalecer a ironia deste mundo em que vivo e que já não faz mais sentido algum. Não tenho mais muita esperança para nada. Porém tenho necessidades trágicas. Como por exemplo, escrever algo e ver se quem sabe isso me acalme.
Vou parar por aqui. Querido meu, sinto sua falta. Se pudesse voltar no tempo, teria ido contigo. Hoje tenho vários grandes motivos para deixar este lugar tenebroso. Mas não acredito que haja um caminho...
Um beijo.
ps. Meus lábios agora tremem.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Vita Brevis (Codex Floriae)
Ao deparar-me com a brevidade da vida, percebi que bobeira seria negar-me aos prazeres efêmeros que esta me propõe. Bobeira maior seria deixá-los entrar só de leve e negar intensidade. Sim, pois só gozamos de tudo que chega a nós se vivemos fortemente. Pensamentos passeiam, nos rondam, mas não podemos deixar que tomem conta. Tentar racionalizar, ao invés de amenizar a dor, a alimenta silenciosamente.
Resolução.
E quanto maior o esforço para esquecer-te, mais frequentes são meus sonhos contigo. É sabido que o desejo de deixar um vício (e uso esta palavra por pura liberdade à metáfora) costuma fortalecer ainda mais a falta. Queria poder comprar uma essência de ti na farmácia, como adesivos de nicotina.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
A Lembrança Sustenta!
Fui passeando pelos arredores. Reconhecia as árvores, sabia o caminho, percebia o sol no meu rosto. E todo esse conhecimento adquirido pela convivência e pelo costume de repente parecia sem sentido. Não parecia mais existir. Adentrei uma estrada nova. Uma calçada recém feita para cortar caminho à quadra. Cortar caminho. Cortar caminhos para quê? Por que a pressa? Se viver é exatamente ir em frente, sem atalhos!
O que será, será; Já dizia aquela canção. E viver o que há de ser é que é simplesmente incrível. Não podemos moldar sozinhos todo nosso futuro. Olha só, aqui estou eu passeando por um caminho criado por terceiros, sem minha aprovação. Decidi caminhar por aqui, como poderia ter escolhido outro caminho que outro construíra. Ou poderia construir meu próprio caminho. Mas não poderia impedir outros de quererem cruzá-lo com o seu próprio cimento ou com sua presença. Nem gostaria. Bifurcações nos enchem com maiores possibilidades. E as pessoas que aparecem no caminho acrescentarão alguma coisa, nem que seja uma mera reflexão.
Minha melancolia vai me forçando a andar mais lentamente. E um vazio toma conta de mim. Nada de carência, mas uma revolta de não saber ser o mundo. De não conseguir ser completa. De simplesmente quietar-me e não fazer de mim tudo que eu poderia. Será que minha vida faz sentido? Será que em algum momento ela já fez? Será que algum dia fará? É tão difícil pra mim responder, sendo que nem sei que sentido procuro, nem se realmente existe algum...
Paro por um momento. Uma canção toma conta da minha cabeça. Uma canção de ninar. Uma lembrança da infância. Vi vários sorrisos. Lembrei-me de brincadeiras. Vi-me a acreditar em fadas. Senti olhares de amor direcionados a mim. Vi-me correr ao vento. Senti de novo o mar pela primeira vez batendo nos meus pés. Notei teus dedos entrelaçados nos meus, tuas coxas em contato com as minhas. Vi-me dançar com diversos pares. Lembrei de coisas belas que escrevi com urgência apaixonada. E como tantas pessoas já me fizeram sorrir. Voltei para debaixo d'água, indo em direção à queda que, apesar de tudo, costumava formar lindos arco-íris.
E foi aí que percebi tão claramente que são as lembranças que sustentam a vida, quando o presente e o futuro se mostram tão incertos.
[E percebi também que todo meu sentido de ser dependia de eu continuar a andar, no caminho que eu mesma escolhi.]