quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eu e você.

Tenho certeza que nosso ritmo criou-se da bossa nova. A sintonia quentinha que ligava seus olhos aos meus e tudo o que poderíamos ter vivido. Havia um ritmo, lembra? Um ritmo calmo que eu e você dançávamos de olhos fechados.
Perguntaram-me mais cedo "Mas e vocês, como estão?" Respondi "Vocês quem?" Olhei para o lado à procura de alguém. Até que, enfim, este terceiro sussurrou seu nome. Só ri e expliquei que não existíamos. E não é verdade? Nunca houve nós, nem vocês. Nunca aprendemos a nos juntar tanto assim. Toda a sintonia que existia era tão abstrata que inventávamos nomes mil para esconder o medo de simplesmente sermos para sempre eu e você. Eu e você, sempre precisando de uma preposição para juntarmos. Não nos misturávamos, eu e você. Só continuávamos aos encantos, aos beijos distantes e sufocantes.
Lembro que um dia, ao som de Tom Jobim, você me segurou e explicou-me baixinho que me amava. Nunca vou esquecer seu rosto naquele momento, fugitivo. E imagino que nunca tenha esquecido meu beijo em sua nuca, trêmulo. Não sei bem porquê, depois disso deitamos na cama de costas viradas. Fui buscando qualquer parte de você com minha mão esquerda, tateando seu corpo até encontrar a sua. Segurei-a forte. Sabia que você preferia não me encarar. Tentei adivinhar-te então, através daquela leve umidade que lhe invadia as palmas. E passei a amar-te de volta. Mas continuamos sem saber como virarmos uma coisa só. Ainda que quiséssemos, à cada segundo ficávamos mais distantes na cama. Sempre com as costas viradas. Você tentava se proteger de sei-lá-o-quê, e eu me contentava apertando suas mãos cada vez mais forte e sentindo seu suor frio.
Mesmo depois de tanto tempo que tombou da cama e se retirou pela porta em passos leves, ainda sinto-me apertando suas mãos. Não consigo sentir que tenha realmente partido. Talvez se eu virasse a cabeça em direção à porta, pudesse comprovar. Mas tenho medo. De perceber que fiquei eu e? Nossa história.

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