segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cantar você.

E foi vendo-te cantar que resolvi esquecer. Esquecer as coisas tolas que queria te dizer. Esquecer teus carinhos que não sei compreender. Quis ficar como estava ali, sentindo meus olhos brilharem e uma leve vontade de chorar. Uma vontade de você, uma vontade de te ter. Uma vontade que me satisfazia mesmo incompleta e sem poder. Meus sorrisos contidos, tentando entender uma amizade com você.
Não sei se é bem assim. E talvez nunca venha a me esclarecer. Talvez prefira assim, eu gostaria de saber. Não sei como me gostas. Mas por sorrir pra mim me conquista de jeito bonito. De jeito que mexe e me balança. De me deixar sem palavras, ar e certezas.

... E fica em mim só o desejo de ser capaz de (também) cantar você.

domingo, 25 de julho de 2010

Sem título.

Ela olhou pra mim como quem vê a lua cheia. Ignorou que eu tivesse outras fases. Viu toda minha majestosidade amarelo-brilhante no escuro e acreditou que aquela era eu. Acabei por apaixonar-me por mim mesma através de seus olhos.


[Rascunho de Alice. Incompleto.]

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Chorinho.

Cheguei ali debaixo do seu prédio. Não, não entrarei. Você nunca saberá que estive aqui. Vim só pra ver se dou a sorte de te ver passando de longe. De onde estou arranjei uma boa visão do seu portão, e estou logo embaixo da sua janela. Primeiro andar, sei que está aí escutando uma canção, um chorinho.
Choro junto, desafinada.
Mas meu coração difícil vai tapando os ouvidos, involuntariamente. Sim, porque se ele pudesse pensar melhor e te escutar, ele já seria todo seu.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quase.

Digo não à proposta dessa estrela brilhante que ofuscou meus olhos essa noite. Ela veio assim, cheia de graça, coisa mais linda que Vinicius jamais viu. Ali em Ipanema, no bar, na minha casa, na escuridão, ou no meio do infinito perto de nada. Só sei que lá estava ela observando toda minha pequenez. Se aproximou fingindo boas intenções. Talvez fossem boas mesmo. Não sei, porque preferi não experimentar. Falou que me mostraria flores. Disse que me levaria numa viagem genial. Contou-me tudo que eu poderia conhecer. Encantou-me com diversas visões de coisas que eram para mim desconhecidas. Falou-me sobre amor e sobre amizade. Contou-me que me levaria para um lugar onde existiriam abraços. Disse que não estava destinada a minha não-vida que levava tranquila.
Quase disse sim. Se pudesse, até teria sorrido. Ela me falou também sobre sorrisos e sobre felicidade. E acredito que sim, se pudesse teria sorrido, segurado sua mão, a abraçado e formulado uma frase bonita com uma coisa que ela chamava de poesia (Não fosse a minha pequenez, minha tranquilidade e minha não-existência...).
Estava disposta. Quando ela de repente falou que de onde ela vinha as coisas também sempre acabam. Acabam de repente e sem aviso prévio. Disse que eu sairia de lá sem saber pra onde iria, ou se iria pra algum outro lugar. Deu-me certeza que eu me perderia em vácuo, em outro vasto breu. Me contou que nunca experimentaria nada igual. Disse que eu teria de abandonar outras pessoas. Falou-me que algumas delas é que me deixariam. Falou-me sobre angústia, desespero e perda. Mas qualquer coisa seria melhor que minha falta de vida, ela disse.

Quem ela pensa que é para subestimar-me assim? A arte de não-viver é melhor que esse desejo efêmero de ser sem sentido.

Querer.

E esse medo de deixar-me levar. De deixar com que as coisas caminhem como deveriam... Firme e lentamente. É como acabará acontecendo. Até que também vá se diluindo... firme e lentamente. Deixar que essa substância sem forma entre garganta abaixo. E que vá penetrando os pedaços esquecidos do meu corpo. Vai passeando assim por mim, com eco. Um suspiro. Um toque. Um arrepio.
E o desejo do infinito? Ou do congelar. Tempo sólido, inquieto ainda que incapaz de se mover. Desejo que não passa de vontade. Vontade angustiada e limitada, por não poder fazer mais nada além de querer.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Lembrança.

Lembro bem daquele dia, um tempo atrás. Quando nos cruzamos na calçada e você me sorriu. Minhas pernas ficaram bambas, e meu corpo hesitou. Foi você que chegou e abraçou-me. Derreti-me. Pensei que poderia cair, desequilibrada. Tentei manter a naturalidade. Enquanto conversávamos, acendi um cigarro. Caminhamos juntas até a parada de ônibus. Menti, disse que não tinha pressa. Fingi que não estava indo pra lugar algum, só para poder acompanhar-te. Via nos seus olhos um sorriso maroto, uma satisfação grande de me ter ali por perto. E eu, bem quieta, às vezes fugia dos seus olhares só pra não me sentir tão descoberta.
Acho que você acabou esquecendo a importância de suas aulas também. Me convidou para um café. Fomos, caminhando e conversando. Adoro quando paro pra pensar em tudo isso. Aquele dia é talvez um dos que mais gosto de recordar. Dizia-me que me adorava e eu ria nervosa sem saber como fazer-te entender tudo que eu sentia além disso. Passamos todo o dia juntas. Você me encantava com suas risadas e jeitinhos. Eu lhe entregava todo meu afeto e atenção. Esquecemos do resto e estávamos completamente ali. Sozinhas, completas, felizes com toda aquela névoa entre nós que excitava e trazia uma curiosidade deliciosa.
Foi bom todo o tempo em que ainda nos sentíamos assim, nesse dia e em todos os outros. Tudo o que veio adiante foi ótimo. Até os momentos mais infelizes, até quando eu sentia que estava tudo mal. Acontece que tudo fez parte de um conjunto maravilhoso de sentimentos intensos e de emoções transbordando. Um ano inteiro se passou e eu nem sei como tudo pode ter acabado tão mal.
Todas aquelas brigas e todas aquelas crises... Sei que errei, mas não fiz por mal. Tentei resolver e queria, queria muito. Mas me descontrolei com tudo que me disse. Tudo aquilo que me disse com suas emoções à flor da pele. Não cobro de ti que tivesse tido cuidado, eu entendo. Mas ah, pobre de mim, também tenho emoções. Senti raiva. Falei outras coisas horríveis de volta. E assim, como num ciclo vicioso, nos atacamos facilmente por conhecermo-nos tão bem. Você saiu da minha casa com a cabeça erguida decidida a não mais voltar. E eu encolhi-me no meu quarto decidida a não mais te procurar.

Hoje, naquela mesma calçada de tanto tempo e lembranças, te vi passar. Não tive como saber se me via. Seus óculos escuros escondiam seu olhar. Te vi, e tive a vontade impulsiva e boba de acenar, de caminhar até ti, educadamente. Não senti mais nada. Você passou e te vi apenas como um rosto conhecido. Deu-me medo, quando percebi. Senti-me fria. Nada de sentimentos, nada de emoções. Distância. Sim, como se você que passava não fosse mais a mesma que passava também por ali há tanto tempo atrás. Decidi virar a cabeça e fingir pressa, dessa vez. Idiota, eu sei. Mas eu preferia continuar contigo como te lembrava do que suportar uma nova-você agora te desconstruindo por dentro de mim.

domingo, 4 de julho de 2010

Inerte.

Aos poucos, todo o sentido que eu havia decidido manter em minhas mãos se fora. Na certeza, adentrou uma fumaça de medo. Já a vontade, foi tomada pelo receio. E eu fui em frente. Talvez por preguiça. Preguiça, sim, de me procurar. Não sei como funciona o auto-controle. Sei que o perdi. Aceito toda partida, toda aposta, sem nunca vencer. É o prazer de estar ali contigo, talvez.
Mas ontem na madrugada estive pensando. Pensei bastante, posso dizer. Debrucei-me sobre a janela da sala com uma taça de vinho chileno nas mãos. Vinho tinto seco que rasgava minha garganta com toda sua classe, enquanto eu me deliciava. Pensei tanto, que vi-me incapaz de chegar a qualquer conclusão. Vi-me incapaz de enxergar qual era meu problema. Na verdade, entrei num novo conflito e passei a acreditar que não havia problema algum, que eu é que estava errado.
Talvez (e só talvez) eu queira me acertar. Talvez seja só escolher. Talvez eu precise de um tempo só. Ou então, parar de beber. Preciso ficar longe desses teus jogos. Voltarei para a casa dos meus pais, para os abraços da minha mãe.
Mas quando acordei, deparei-me com o sol na janela. Meu corpo dolorido pela ressaca. Minha garganta com o gosto dos vários cigarros do dia anterior. Meu bem entrou no quarto. Sentou-se do meu lado, beijou-me e me entregou um sanduíche. Você me ligou, um pouco depois. Queria me ver. Queria também, juro. Queria abraçar-te e dançar contigo como fizemos aquela noite. Mas a inércia do dia tomou conta de mim. Amanhã te telefono, e entro pra dentro dos seus jogos outra vez, prometo.
E a epifania da madrugada acabou tornando-se costumeira para mim, nas próximas semanas. E o sol também. E você, e meu bem.