segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vicioso.

Você se aproximou depois de perceber meus olhares de desejo. Você chegou como quem já sabe bem o que quer. Ainda que essa certeza jamais racionalizasse dentro de si. Sorria das minhas retribuições tão singelas. Esforçava-se a mostrar-se forte. Mas às vezes começava com um discurso que não sabia pra onde ia, nem de onde vinha. Me enchia de palavras pesadas, que juntas não diziam coisa alguma. Eu me esforçava a compreender, a relevar, e a crer que com o tempo te entenderia. Eu cria que o tempo viria.
Você ali, no palco. Você, de novo. Você, com uma voz ardente, com os lábios quietos. Você, ora ruiva, ora morena. Você, às vezes com seus cabelos longos. Mudava a cor dos olhos. Trocava constantemente de nome. De gostos, de sabores, de jeitos. Mas continua sendo você que, com o poder do toque, ao encostar em meu ombro e virar a beirada do seu rosto em minha direção, me encantou. Que ao cantar uma canção francesa para centenas, sem perceber minha presença, derrubou-se em mim. Um encontro casual. Te conheci de novo. Já sentia sua falta. Seu toque. Sua voz. Sua casualidade. Sua intensidade. Não me surpreendi ao perceber que acabava de deparar-me com um novo amor.
Mas chega uma outra voz. Uma voz interna, terrível, verdadeira e contemplativa, me dizendo que talvez não fosse amor novo coisa alguma. Disse-me que talvez fosse apenas lembrança de amores passados. Irrelevante. Mesmo meus amores passados tinham qualquer coisa de inconveniente.

Não temo meter-me em bolas de neve. Meu medo é que o tempo, de novo, não chegue.

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