segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quebra-cabeças.

E se eu te disser, assim... que te descobri? Te desvendei. Desvendei teu amor, segredo meu. Percebi quase sem querer. Ou melhor, nunca quis, mesmo. Mas dentro de todas suas curtas palavras via uma pista. Pequena, que seja. Se formaram num quebra-cabeça e agora eu posso ver. Vou emoldurá-lo. Cuidá-lo e apreciá-lo. Ainda que de longe, ainda que distante. Um cenário bonito que me entristece até certo ponto. Minha vida já tão cheia de desamores... Por que é que havia de apaixonar-me logo por um amor assim, tão seu? Alheio a qualquer coisa que me pertença.
Ter enfim descoberto, ou criado uma imagem bonita para o que nunca saberia compreender através desses seus olhos vagos e grande estatura, me trouxe certo alívio. Respirei devagar. Segurei os teus ombros, abracei teus cabelos, beijei os teus pés. Depois voltei a ver-te formosa em minha parede. Como nunca havia antes percebido.
Já passei muitos anos em busca da felicidade. Não ligo mais para isso. Hoje, procuro apenas o bem-estar. Procuro apenas cuidado. Sou carente de um abraço, de um carinho. Mas aprendi a entender-te tão mais bonita em meu quadro que em meus braços... Ainda que continue firme do meu lado, do outro lado da cama.
Pode desconstruir-se. Vamos lá. Eu sei que não permanecerá aqui por tempo longo. Sei que assim que o sol bater nessa minha antiga cortina pesada, você irá embora sem se despedir. Não me importo. Talvez sinta falta. Mas não se importe com isso. Só quero que, por favor, não leve embora o quadro. Nem enfie seus saltos finos pela moldura em meio a sua fúria. Passei tempo demais montando esse quebra-cabeça. Tão alheio a mim, mas tão cheio de desejos meus. Deixe-o como lembrança, por favor, uma imagem de você.

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