domingo, 20 de junho de 2010

Dissimulada.

Você sentou do meu lado como quem não quer nada e perguntou como vai minha vida. Te contei que já estava para me formar. Te falei que planejava me mudar. Ir para São Paulo buscar um bom emprego. Você sorriu, meio que sem pensar. Contou-me que as coisas em casa tinham piorado, que não aguentava mais. Desejou-me o melhor.
Virei-me e você me fitava com olhos brilhantes. Aquela intimidade de outrora era hoje distante. Vi em você a vontade de voltar. E uma vontade de chorar, esquisita. Segurei suas mãos geladas e desejei que aquilo a fizesse se sentir melhor. Perguntei se não desejava sair dali. Subitamente, tive vontade de sair contigo e só contigo. De repente, senti que te queria do lado outra vez.
Mas você, assustada, largou minhas mãos. Disse baixinho, pra que ninguém mais escutasse, que eu estava me precipitando. Vi no seu rosto aquela expressão que sempre me fazia mal. Aquela que me informava silenciosamente o quanto eu era previsível, o quanto eu era fácil. Perguntei, já levemente irritada (e chateada) se queria alguma coisa de mim, se eu poderia lhe ajudar. Me respondeu que sim. Abaixou a cabeça e olhou pra baixo, fazendo com que eu me aproximasse aos pouquinhos. "O que?" sussurrei no seu ouvido. E foi então, com um sorriso tímido, que me disse que era só parar de levar-te tão a sério.
E me beijou. De novo assim, como quem não quer nada.

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