sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Epidemia

Meus olhos abriram aquela noite sem sentido. Olhei para cima e via a sombra do ventilador de teto que deixara ligado antes de dormir, para espantar os mosquitos. Estava há quilômetros de distância da cidade. O único som que eu escutava era o coachar de um único sapo abaixo da janela. O breu cobria minha visão, mas nele eu descobria todas as outras coisas. Lancei um olhar acolhedor para o escuro, que me traiu. Enviou-me um vento frio pela brecha da janela, e um sopro de dor da ventania nas árvores. Cobri-me com mais cobertas. Sussurrei de fininho “Tem alguém aí?” assustada. Mas seria impossível qualquer resposta. E aí até perguntei-me se me assustava o fato de que poderia ter alguém ali, ou o fato de não haver ninguém. Difícil escolher entre ausência e presença. Estava eu ali, sozinha, completava um ano inteiro. Dormindo todos os dias naquele quarto escuro, à luz de velas que eu arranjei antes da viagem. Meu laptop ao lado, para esboçar algumas palavras. Se nada sobrar do meu corpo, que pelo menos alguns escritos comprovem a minha existência.
Por que viajei? Essa pergunta me assombrava a toda hora. Sei bem que o que me trouxe aqui foi a epidemia. Não podia mais observar o sofrimento alheio, pois aos poucos fui deixando-me enfraquecer. Não pagaria psicólogo algum pra descobrir em mim uma doença óbvia. Não tomaria remédios. “O mundo contamina”?. Está bem. Sairei então disso que chamam de mundo. Me afastei então da sociedade. Essa depressão passeia devagar por todos nós. Fazendo-nos pensar em ideias inventadas e conceitos cheios de valor. Não quero valor. Quero só existir de longe. Minha cabeça e até onde ela pode ir é a única coisa que me fascina. Nunca meditei, nunca participei de ritual algum. Minha onda é com minha mente ativa. À loucura. Conversar sozinha é meu maior prazer.

Um comentário:

sindro disse...

Oi gostei do seu texto, passe lá no meu blog de textos, obrigado e até mais.