quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Convenci-me.

Repito para mim mesmo a verdade incerta. A conclusão a qual cheguei. Não vou mais chorar. Ciente de que o choro me deixa inchado, sensível, bobo. Inchado de cansaço, de sabor amargo. A auto-piedade que me resta, eu guardo pro resto do mundo. Pobre mundo, não carrego mais seu peso. Tento me convencer. Sou convencido, por mim mesmo, que permitir lágrimas molhando meu rosto não é uma opção segura para um homem como eu. E pensando nas minhas certezas absurdas, das quais eu tanto discordo e combato, eu choro. Choro por ter desistido de chorar. Choro com medo de conter o choro. E, ao mesmo tempo, choro como se me despedisse das minhas próprias lágrimas.
Penso nas pessoas que também estão chorando como eu. E invejo os sorrisos que imagino. Os amantes imprudentes mal sabem o veneno que pode existir em um sorriso. Veneno lento que lateja com o tempo, de tudo que foi, e do que não teve tempo de ser. E uso o tempo que sobrou pra lamentar. Lamentar o que passou. Sei que não morri, nem tenho dúvidas de que vou me recuperar. Mas é que passeando por entre macas e sendo examinado por todas essas lindas enfermeiras, que brilham os olhos quando batem nos meus. E eu penso "É pena!". Nunca pensei que uma mulher pudesse olhar pra mim desta forma. Eu de certa forma sinto que perdi a vida, apesar de não ter abraçado a morte.
A verdade é que me acomodei. Acomodei-me a pensar que sou velho e doente. E acomodei-me a pensar que nada disso é atraente. E aí fico calado, rabugento. O médico vem me dizer que tenho uma saúde de ferro, apesar de tudo. "Apesar de tudo". Esse homem já gostaria de me ver morto. E eu dou um grunhido como um bicho que quer distância, por se sentir ameaçado. Mas são as visitas da família que me sufocam. Não agüento mais repetir tudo o que passou. Não agüento mais minha esposa achar que não estou forte o suficiente pra leva-la para cama. Porque eu sinto falta dos seus suspiros. Os de prazer. Essa compaixão toda me mata. É ela que me desanima. São todos eles.
E aí eu comecei a chorar. Eles me convenceram da minha pequenez. Mostraram o quanto eu era impotente nessa roupa de hospital. Às vezes tenho vontade de descontar em todo mundo e mandar alguém limpar meu cu. Mas aí a tristeza vem. E eu sou um homem sensível. Um homem doente e sensível. E acabo sentindo grande importância em cada tom de preocupação, de carinho. E aí eu choro. E decido não chorar. Cansei, cansei de tudo. Eu tô com saudades de viver, ou pelo menos sentir que vivo. Detesto isso de estar seguro na beira do precipício. Alguém me joga do penhasco? - que eu quero o intervalo. Eu quero o intervalo, da rocha ao mar. Eu quero sentir a vida.

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