Foi até o banheiro, maquiou-se e colocou uma roupa colorida e um tênis surrado marrom. Colocou seu violão nas costas, e saiu. Já fora de casa, ia andando sem ter pra onde ir. Tentava adivinhar para que lado ir, com sua intuição. Conforme a energia que a rodeava, ela deveria virar para a direita. Deveria caminhar até a rodoviária, e pegar o ônibus azul. Adormeceu. E aí, encontrou André. Ele chegava e a beijava e, pela primeira vez, Flávia correspondia. Abria seu violão, e tocava uma música nova a qual não identificava. André a acompanhava, na gaita. E num desejo imenso, Flávia doou seu corpo pela primeira vez. Deixou-se entregue. Tudo e qualquer coisa que já os tivesse chateado, qualquer decepção, qualquer distância... Parecia não existir mais.
Voltou para casa com a respiração lhe faltando. Fazia força para conseguir andar. E ao deitar-se na cama, sentia-se sem defesas. Como se um sonho a tivesse vencido. E o fantasma do que aconteceu a perseguia. A grande descoberta dela era essa, a possibilidade de sonhar e guardar dentro de si o que não permitia levar para fora. Recolhida na cama, abraçou-se. Amaria por dentro, escondida, para sempre. Não só André, mas também todos os outros que já passaram por sua vida, e outros que ela ainda estava por encontrar. E por fora permaneceria sempre só, porém completa, preenchida por seus sonhos.
Foto: Lucas Braga
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