sexta-feira, 21 de agosto de 2009

"I'm a pretty impossible lady to be with..."

Flávia fugia. Ela fugia de seus amores passados com um carinho calmo. Não foram nem mesmo grandes amores, ela não permitiu que se tornassem. Ela não servia para ninguém, pensava. Não gostava de ficar no mesmo lugar nunca. E quando estava em casa, gostava de escrever algumas letras de música. Ela fugia também de seus amigos. Os conquistava e deixava-os, como num jogo. Ela só queria provar o gostinho bom do que aquilo poderia lhe trazer antes de se acabar. Ela era destrutiva. Ela conquistava olhares e corações no meio do caminho, e lançava olhares de volta, livre. Adorava se sentir assim. Sentia-se por cima, melhor do que todo mundo. Mas é claro que escondia inclusive de si mesma sua prepotência. Descobriu-se fora do controle da situação quando, ao abrir a janela do seu quarto, avistou André, com uma outra menina. Mais nova que ela, provavelmente. Mas não muito. Flávia a conhecia, sempre a viu passeando ali por perto, mas sempre sem ninguém com ela. Ver André assim, com um outro alguém que não ela, atingiu Flávia inesperadamente. André sempre foi perdidamente apaixonado por ela, e ela se sentia parte dele. Ele a deixando... Era como se parte dela também fosse embora.

Foi até o banheiro, maquiou-se e colocou uma roupa colorida e um tênis surrado marrom. Colocou seu violão nas costas, e saiu. Já fora de casa, ia andando sem ter pra onde ir. Tentava adivinhar para que lado ir, com sua intuição. Conforme a energia que a rodeava, ela deveria virar para a direita. Deveria caminhar até a rodoviária, e pegar o ônibus azul. Adormeceu. E aí, encontrou André. Ele chegava e a beijava e, pela primeira vez, Flávia correspondia. Abria seu violão, e tocava uma música nova a qual não identificava. André a acompanhava, na gaita. E num desejo imenso, Flávia doou seu corpo pela primeira vez. Deixou-se entregue. Tudo e qualquer coisa que já os tivesse chateado, qualquer decepção, qualquer distância... Parecia não existir mais.
Voltou para casa com a respiração lhe faltando. Fazia força para conseguir andar. E ao deitar-se na cama, sentia-se sem defesas. Como se um sonho a tivesse vencido. E o fantasma do que aconteceu a perseguia. A grande descoberta dela era essa, a possibilidade de sonhar e guardar dentro de si o que não permitia levar para fora. Recolhida na cama, abraçou-se. Amaria por dentro, escondida, para sempre. Não só André, mas também todos os outros que já passaram por sua vida, e outros que ela ainda estava por encontrar. E por fora permaneceria sempre só, porém completa, preenchida por seus sonhos.

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