sexta-feira, 4 de setembro de 2009

-Daniel, sabe aqueles sonhos que te dão vergonha de ter sonhado?
-Hahaha, como assim, Clara!
-É, é! Você sonha com o rosto de alguém e depois meio que perde a vontade de ver essa pessoa pra sempre, porque por mais que tenha sido apenas um sonho, você não aguenta encará-la sem lembrar de tal quimera?
-Hum... sei sim como é.
Ela sentia um pouco de descaso na sua voz, e ficou chateada que ele não a ouvisse curioso. Resolveu continuar.Estava ansiosa e muito angústiada, e na verdade nem se importava muito se ele a escutava com descaso ou não.
-E é engraçado, porque de repente essa pessoa te manda um e-mail, e você fica feliz sem saber porquê. Por que.. se fosse como no sonho, você teria motivos pra se sentir feliz. Mas a realidade depois aparece como uma palavra fria e te derruba de levinho, e aos poucos você dá ainda mais força à ilusão. À fim de esquecer a realidade que machuca.
-Fico tentando imaginar quem foi que te deixou assim...
-Isso pouco importa. O que importa, Daniel... É que se a gente deixar a ilusão se dar como certa, tudo acaba ficando pior ainda. Mas...
Não conseguia encontrar mais palavras para dizer. Era complicado, e talvez Daniel não entendesse nada.
-Mas... ?
-Mas não há verdade e mentira, cheguei à essa conclusão. Nossa alma, nosso espírito, ou seja lá o que for... Trai fácil. Às vezes trai à vontade sem nunca ser descoberto. E me pergunto... porque ainda nos preocupamos.
-Nos preocupamos?
-É sim.
-Clara, nos acostumamos com isso, sabe? Não queremos ser traídos num sonho, mas isso não podemos controlar. Agora, ser traído no que dizemos "realidade". Sei lá... Pode-se controlar, e esperamos que se controlem, entende? Eu espero isso de você, assim como você espera de mim.
-Daniel...
-O quê?
-No sonho, eu sabia que tinha um namorado. A diferença é que lá, a oportunidade bateu à minha porta.

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